terça-feira, abril 12, 2005

Testamento do Judas

Leio agora meu testamento Para que fiqueis a saber O meu amor sopro do vento Sem lágrimas vai padecer Por isso em funda ilusão De fartas fazendas e poder Foi mirrando meu coração Sem que me pudesses valer Não receio nem a morte Pois viver foi meu castigo Do amor neguei a sorte Só no fogo tenho abrigo Dou-te em cinzas Amada Primavera Prometida E à gente tão maltratada O escárnio desta vida Sem demora vou entregar Do meu baú as heranças Para que possam admirar E encher de riso as panças Vou falar com muita mágoa Do nosso rio poluído Veio um peixe fora d'água E segredou-me ao ouvido Meu amigo põe-te andar Eu peço-te por quem és Se te molhas vais ficar Sem os dedos dos pés Foi cinema apreciado Num passado bem recente Hoje está tão degradado Que mete nojo à nossa gente Quero deixar por missão À mui digna edilidade Que opere a destruição Do mostrengo da cidade Majestosa biblioteca Mas mui mal recheada Bons autores é uma seca Só tem jornais e mais nada Para não sofrerem mais Bons sofás eu vou deixar Aos velhinhos dos jornais Que vão p`ra lá dormitar Deixo ao nosso hospital Uma ideia bem atrevida Porque é urgente e real Encarar melhor a vida Medicina é coisa nobre Não gosta de cangalheiro Que olha de lado o pobre Porque não brota dinheiro Que descobertas profundas Fez a nossa edilidade Uma dúzia de rotundas P `ra arredondar a cidade E o povo que é muito ordeiro Em Azurara alcança a verdade Que o descarado engenheiro Traiu na cópia a paternidade Mas que belo é o colesterol O nosso comboio das férias Tem orquestra em bemol Para encharcar as artérias Aos ideólogos de tal trem Prescrevo clara medicina Servir melhor quem vem Dar um banho na vitrina Serve ao Monte como luva Este clássico epíteto Tirar o cavalo da chuva Dar o dito por não dito Deixo mensagem urgente Aos seus pares desiludidos Mande-os nus, ó Presidente Que serão aplaudidos Coisa assim nunca se viu E por isso, é tão falada A Praça também fugiu Tinha a banda hipotecada Vou deixar-lhes em testamento Agora que estão de tanga Duas mulas, um jumento Para fazer de charanga No CCO? Mas que horror D`heresia nunca vista! Levar à cena um autor Que é ateu e comunista! Coitada da direcção Perfidamente enganada! No tempo da Inquisição Como eu era queimada! Se estudar te faz mal Ficas pior que estragado Deixo-te a Profissional Para tu seres diplomado Um puto acabou agora O seu direito canónico Sabe usar calculadora Fala inglês macarrónico Aos meninos do cinema Que vivem sempre na alta Vou deixar prenda pequena Que dinheiro não lhes falta No que toca a patrocínios São como saco sem fundo Esses bonitos meninos Viajam por todo o mundo Ao Marcelo bonecreiro O que é que vou deixar? Eu vou deixar um pandeiro P`ra sua chefe agradar Para o talentoso artista Sem disto fazer laracha Acrescento à minha lista Uma latinha de graxa Velhinhos do Restelo Tem Vila do Conde sem par Eles têm o modelo Para tudo consertar Eu deixo a essa gente Uma pedra de amolar Para afiarem o dente Quando vêm criticar Manda a férrea disciplina De quem nos jornais padece Não buscar moderna rima Contra à vontade que obedece Deixo-lhes boa cana de pesca P`ra garantir sua ração Que o poder não se refresca Não gosta de confusão O Presidente coitado Tantos anos no poleiro A prometer ao desgraçado A engordar o empreiteiro Vou deixar ao Presidente Numa medida acertada Um assessor diligente P`ra controlar a cambada O Azul, o Ferraz e o Correia Com patrocínio chorudo Divertem a plateia Fazem da queima um entrudo Eu deixo a esses rapazes Um isqueiro dos trezentos Para que sejam capazes De queimar os pestilentos Já tenho o baú vazio E não entrego mais herança Neste longo desvario Só no fogo tenho esperança Vila do Conde, 26 de Març0 2005 JUDAS

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Viva o 25 de Abril!!!

O. Saraiva de Carvalho

4:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

25 de abril pro caralho. 25 de abril todos os dias. ja chega de inercia. revoluciona-te.

3:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

sim xega d inercia.Caminhante,n há caminho,o caminho é feito a andar

10:27 da tarde  

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